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Cheios de queixas, alunos do 3º ano entregam jornais sobre paralisação


No lugar do enstusiamo, o silêncio. Antes animado com a orientação de trabalhos sobre greve para alunos do 3º ano do ensino médio, nesta terça (10), o professor de Filosofia Carlos Magno Pessoa preferiu se calar.
De acordo com alunos do Colégio Estadual Manoel Novaes, no Canela, nem aula ele deu, após ler reportagem do CORREIO, mostrando que a greve dos professores havia se tornado tema de suas aulas de reposição.
“Ele entrou na sala, pegou os trabalhos e colocou presença nos alunos. Não fez nenhum comentário”, relatou a estudante Tamires Azevedo, 18 anos. Os trabalhos mencionados por ela são os jornais da foto acima, que têm peso 7 e tinham que ser produzidos em cima da greve dos professores da rede estadual, que completa hoje 92 dias.
Procurado pela reportagem, o professor não quis comentar o assunto. “Ele não quer falar e disse que o trabalho é uma expressão puramente dos alunos”, reproduziu o estudante Thiago da Silva, 18 anos.
Em meio a reclamações, os alunos entregaram o Jornal da Manhã - Diário Oficial do Manoel Novaes, o Maneco News! e o Jornal Estudantil. Desde que recebeu as orientações, Tamires, que formou equipe com quatro colegas para produzir o Estudantil, não compreendeu de que forma o assunto somaria ao seu aprendizado.
“Só fiz para não perder o peso da avaliação. Não tem nada a ver com os estudantes. Já acompanho a greve nos meios de comunicação. Quero é aula”, diz Tamires. Os jornais são uma espécie de clipagem de notícias da internet. “Não tem como a gente produzir texto, porque nada disso vai cair no Enem”, completou Thiago.
Sua parceira na edição do Diário Oficial do Manoel Novaes, Vanessa Passos, 18, também reprovou a ideia de tratar a greve dos professores na sala de aula. “Espero que a partir de agora as coisas mudem. O jeito foi falar da quantidade de dias parados, do vídeo das ‘Estudetes’... Buscamos tudo na internet”, contou.
Enquanto os alunos repercutiam o caso nos corredores, a direção do colégio não se manifestou. O vice-diretor, José Mário Regis Costa, informou, por meio de um recepcionista, que só a diretora poderia falar sobre a abordagem da greve nas aulas. “Só quem fala é a diretora e ela não está”, explicou o funcionário.
Pituaçu 
Longe dali, na porta do Colégio Estadual Davi Mendes, em Colinas de Pituaçu, a reportagem também foi barrada. Na unidade de ensino, o CORREIO acompanhou outra aula, também de Filosofia, em que o professor Paulo Roberto debatia a greve com os alunos.

“O vice-diretor não está. A imprensa não pode entrar na escola e deve procurar a Secretaria da Educação. Aqui, ninguém vai comentar nada”, avisou um vigilante.
Antes, porém, por telefone, o vice-diretor, Orlando Rosário, queria comentar a reportagem. “Estamos com um colega na iminência de ser cortado. A Secretaria ligou querendo confirmar se o professor mencionado na reportagem trabalha aqui”, disse. Apesar de alunos confirmarem que Paulo Roberto deu aula ontem, ele também não foi encontrado para comentar o assunto.
Impasse 
Por meio da assessoria de comunicação da Secretaria da Educação, o titular da pasta, Osvaldo Barreto, informou que vai analisar a situação antes de se posicionar sobre o caso.

Já a coordenadora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação (APLB), Marilene Betros, reiterou o posicionamento já exposto pela entidade. “É um tema de cidadania que pode ser tratado em qualquer disciplina. Prefiro não observar como uma catequização dos alunos quanto à paralisação, mas não digo que aprovo nem reprovo”, concluiu.

Professores têm reunião 'positiva' no MP
Sexta-feira, 13. O dia depois de amanhã foi o escolhido pelos professores  para tomar novas decisões sobre os rumos da paralisação, cuja continuidade foi decidida em assembleia na manhã de ontem. A possibilidade de outra assembleia esta semana surgiu depois que o comando de greve se reuniu, durante a tarde, com o procurador-geral do Ministério Público Estadual (MP), Wellington César Lima e Silva.

A coordenadora do sindicato dos professores (APLB), Marilene Betros, avaliou a reunião como “positiva”. “O governo estadual encaminhou os documentos do Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) para o procurador. Reiteramos a nossa proposta e colocamos o que era necessário para acabar com a greve”, afirmou.
Segundo ela, a APLB pediu a anulação de determinações judiciais quanto aos salários cortados dos professores e ao congelamento das contribuições recebidas pela entidade. Além disso, foi pedida a suspensão dos processos administrativos-disciplinares abertos contra os grevistas.
Betros lembrou que a APLB já recorreu da decisão da desembargadora do Tribunal de Justiça da Bahia, Dayse Lago, que decretou a ilegalidade da greve, além de determinar o retorno imediato dos professores ao trabalho, estabelecendo multa diária de R$ 10 mil em caso de descumprimento.
“Vamos procurar outros instrumentos jurídicos. O TJ precisa julgar o mérito da questão”, ressaltou. A previsão é que hoje ocorra um encontro entre representantes do MPE e do governo para tratar do impasse.
Na quinta-feira, aposta o sindicato, pode  ocorrer uma inédita reunião entre grevistas, governo e o MPE. Entretanto, o procurador-geral não confirma que haverá um encontro entre as três partes. “Amanhã (hoje) receberemos o governo. Na quinta, pode ser apenas com a APLB novamente”, disse Lima e Silva.
Segunda-feira, o governador Wagner enviou ofício ao MPE e ao Tribunal de Justiça, solicitando a intermediação das instituições junto aos professores. Ele afirmou que a proposta de junho continua de pé: 7% de reajuste em novembro, mais 7% em abril de 2013, que se somariam ao reajuste concedido a todos os servidores.

Alunos do 2º ano assistem aula do 3º
A inscrição no Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) está garantida, já o bom rendimento na prova, nem tanto. Na tentativa de ter bons resultados na avaliação, os colegas Hélio Ribeiro, 16, e Rafaela Freire, 17, ambos estudantes do 2º ano do Colégio Davi Mendes Pereira, em Colinas de Pituaçu, estão frequentando diariamente as aulas emergenciais voltadas para os alunos do 3º ano.

“Preciso ter um melhor aprendizado. Vou fazer o Enem e não quero ser mais prejudicada. Estou recorrendo a todas as formas para aprender: em casa, internet e, agora, vindo pra escola pra assistir aulas que nem são para mim. Não dá pra ficar sem fazer nada e não quero repetir o ano”, explica Rafaela.
“Mesmo assim, não acho que chegarei pronta para fazer o Enem. Quero cursar Direito e tenho que ralar pra caramba”, completa. Hélio, por sua vez, vai fazer o Enem pela segunda oportunidade. “Não estou nem um pouco preparado, apesar de correr por fora para aprender. Além da greve, é muita falta de organização com os horários e os conteúdos. A gente pode entrar em qualquer sala para assistir à aula que quiser. Estamos perdidos”, afirma.
Entre os artifícios usados para tentar garantir o aprendizado, além de copiar o assunto do quadro, Hélio ainda usa o aparelho celular para ajudar nas aulas. “Estudo pelo caderno e também vejo as fotos no celular”, dá a dica.
News SAJ
Correio

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